Carta aberta – Violência Infantil
Carta aberta – Violência Infantil
Esta é uma carta aberta ao Mundo…
Um grito de profunda revolta contra a violência infantil.
Quantas mais crianças precisam de morrer às mãos de perpetradores, perante a indiferença e inação de quem devia estar atento aos sinais e proteger estes anjos indefesos?
Agredidos, torturados, violados, esfaqueados até à morte em cenários dantescos.
Sento-me invariavelmente com as mãos a segurar a minha cabeça e a repetir vezes sem conta que estas notícias são falsas, que é impossível ter acontecido, com uma revolta e dor imensa de nada poder fazer…
Mas este último caso, da morte violenta de um inocente de quatro anos ao qual foram infligidas duras agressões físicas e sexuais, supostamente por um padrasto perante a inação de uma mãe, deixou-me fora de mim.
A revolta, a dor e a impotência, mas também um sentimento de raiva por não ter conseguido ser sua tia, avó, professora, vizinha, assistente social, polícia, juíza, ou simplesmente qualquer membro daquela comunidade.
Será que nada podemos fazer, cada um de nós como membro de toda a comunidade global? Qual é a nossa responsabilidade? Qual é a nossa empatia e amor pelo próximo? Até onde podemos ir para defender estes doces, como chamo aos meus netinhos?
Não me posso calar mais e estou na reta final da minha vida…
Quero deixar o meu grito, em alto e bom som, para que chegue aos quatro ventos.
Cidadãos do Mundo:
Uma criança é um tesouro, uma dádiva do céu e, pais, aqueles que ainda não entenderam, um filho não é uma obrigação, é um privilégio!
E falo em primeira instância para os pais, porque sendo a violência infantil, entre outros tipos de violência, um problema social, estamos a tocar no âmago da questão.
Os perpetradores, agressores e violadores estão em todo o lado onde não deveriam estar, começando pela família nuclear. Então, se esta não protege e até agride a criança, a qual decerto dá sinais físicos visíveis e comportamentais das agressões que sofre, onde está a família mais alargada? Onde estão os amigos e vizinhos que ouvem o choro repetidamente, ou até não, mas que suspeitam que algo não está bem? E a escolinha? A educadora que recebe aquele anjinho não viu que vem assustado, cabisbaixo, com arranhões, hematomas?
Não é uma questão de coragem, denunciar é uma obrigação imperativa.
Por isso quero falar alto e tentar fazer algo, nem que seja divulgar este texto como um ponto de partida para uma discussão alargada na sociedade… que seja lido pelo maior número de pessoas possível e em todas as línguas, que hoje os textos na internet são rapidamente traduzidos num piscar de olhos. Assim todos estejamos prontos para fazer algo que pensáramos não poder fazer.
Porque não fazer vigílias, manifestações, desencadear movimentos?
Porque não acordar as comunidades para uma luta que se impõe e urge a cada segundo?
Vamos ser vigilantes, todos nós, estar atentos, identificar, denunciar estes cobardes abjetos, que na maior parte das vezes se escudam de problemas mentais, mas que nunca atentam contra si próprios…
Existem gabinetes de crise para pandemias, catástrofes ou problemas económicos? Existem e são importantes. Mas existe algo mais importante que defender uma criança? Porque não criar gabinetes de crise para este problema tão grave que assola cada vez mais as comunidades?
Tanto por fazer…
Educação, um dos primeiros pilares basilares:
Formar educadores e professores para que rapidamente identifiquem os sinais e acionem os mecanismos previstos. Formar assistentes sociais para serem mais interventivos e assertivos.
Polícias:
Não batam simplesmente à porta, por favor, para perguntar ao agressor se está tudo bem. Cumpram a vossa missão… assegurem-se que não existe para lá da porta, no interior do que devia ser um doce lar, uma criança amordaçada.
Juízes:
Ordens de restrição?! Não será apenas adiar o crime por mais uns dias ou até horas? Que tal pulseira eletrónica, prisão efetiva? Que tal fortes e duras penas, penas pesadas, pesadas e longas?
Deputados:
Que debates importantes sobre a violência infantil, em particular casos extremos de homicídios desconcertantes discutem na Assembleia da República? Quantos abaixo-assinados, quantas vozes têm de se levantar? A vossa função não é representar os cidadãos que vos elegeram? Quantas medidas já propuseram? Ou perdem tempo em trocas desrespeitosas, risinhos ridículos, faltas de bom senso numa casa que devia primar pela integridade?
Primeiros-ministros, altos governantes do Estado, Presidentes da República:
Vão dar voz às crianças? Vão fazer exercer os seus direitos, na sua plenitude? Propor medidas mais eficazes no controlo deste flagelo?
Por cada criança que morre em cada segundo na face da Terra, prometo vestir a sua dor na minha pele engelhada, prometo repetir as mesmas preces sem conta, prometo fazer ouvir a minha voz, prometo ser vigilante e interventiva, prometo sair do meu conforto, dar o peito às balas e mover nem que seja um pequeno peão num
jogo de tabuleiro, se tal permitir desencadear um jogo global no qual os agressores não têm lugar e são peões espezinhados!
Por todos os anjos e estrelas caídas do céu, que partiram prematuramente num cenário de dor!
Paula Rosa